Até o cansaço vem sendo discutido em várias esferas - acadêmica, legislativa e até regional - há vários anos, sobre como lidar com a questão do contrabando, quais são as alternativas que os quileros têm e como entender ou mudar essa realidade fronteiriça.
Ex-contrabandistas co-protagonistas do curto-documentario "O POBRE QUE VA POR PÃO"
Desde abril de 2019, o deputado Gerardo Amarilla, eleito pelo Departamento de Rivera, propõe a descriminalização do contrabando - impedindo que trabalhadores simples entrem em contato com o mundo do tráfico ilegal de alto padrão e alto risco nas prisões -, o que permitiria tratar os quileros como trabalhadores e não mais como criminosos, estabelecendo ou determinando o Estado quais serão os limites legais pelos quais um carregamento será considerado crime.
Por outro lado, o Contador Atilio Amosa de Tacuarembó propõe há algum tempo a regularização do trânsito de mercadorias, bens e serviços na fronteira, tendo em vista que o próprio estatuto do Mercosul impõe liberdade ao comércio da região, embora desde 1991 nunca foi implementado; dessa maneira, os quileros deixariam de pagar impostos no país vizinho (pagariam no Uruguai) e, por sua vez, poderiam legalizar o trabalho de transferência de mercadorias - o que reduziria a taxa de 50% de informalidade e 45% de desemprego. - concedendo condições iguais ao estatuto de importador e poderiam atuar individualmente ou em conjunto entre um grupo deles.
Do nosso humilde lugar, propusemos que a educação nas áreas fronteiriças fosse discutida, transformada e adaptada, porque não é apenas o problema do analfabetismo observado nessa região - um índice que dobra a média nacional do país de 1,5% e 3% sem estudos universitários-, mas o que é mais triste ainda, essas áreas do país sofrem as consequências da mentalidade limitada da capital, onde os programas e sistemas educacionais que são transmitidos e aplicados são aqueles desenvolvidos para a área metropolitana, que muitas vezes não são viáveis, nem contemplam as necessidades e particularidades dos habitantes da fronteira, principalmente os jovens que frequentemente precisam migrar, não apenas em busca de trabalho, mas em busca de um estudo que lhes permita acreditar que eles podem viver na cidade do que gostam ou sabem fazer melhor (ou na falta de aqueles se tornam quileros).
Mas é claro que nada disso é viável, correto ou adequado se for realizado atrás das costas dos quileros, se for gerenciado ou resolvido atrás de uma mesa, na capital ou por um diplomata de casaco e gravata que nunca pisou ou viveu essa realidade. no local. Se realmente se pretende buscar uma mudança e transformar essa realidade, os mecanismos de participação democrática devem necessariamente ser postos em prática para consultar, ouvir e dar um lugar às pessoas envolvidas na questão, já que não é plausível mostrar um futuro diferente ou melhor, para eles ou para suas famílias, se tudo permanecer o mesmo, ou pior, se essas transformações sociais forem impostas, desengajadas da realidade e afastadas de todo afeto de identidade e respeito por cultura local.
Da arte e da cultura, estamos dando o primeiro passo, expondo a realidade, recuperando e valorizando parte da identidade e cultura da fronteira, apresentando propostas e alternativas de mudança, porque acreditamos que não é justo ver pessoas que morrem apenas para se procurar o pão. Agora, qualquer mudança real possível somente será alcançada com a participação de todos os envolvidos direta e indiretamente com a fronteira e os quileros, porque todos nós, de uma maneira ou de outra, temos ou tivemos alguma conexão real com o problema. Negar é hipócrita, descartá-lo é tolice: o interior também existe e na fronteira é vivida outra vida que é impossível continuar se escondendo.
Richar Enry
Kommentare